quarta-feira, 27 de junho de 2012

Seminário 5 - “Estágio probatório” em Porto Ferreira - 1964

 Para lembrar – terminei o texto “Seminário 4” com a minha expulsão do Seminário por meio de uma Carta enviada ao Bispo de Campinas e encaminhada ao Mons.Bruno, que me chamou e ...

Expulso do Ipiranga – E agora, o que vou falar lá em casa? - A mulher de areia

O que explicar para minha família se nem eu sabia bem o porque da minha expulsão. Papai se conformou rapidamente mas minha mãe ficou com um grilo na cabeça. Eu tentava explicar que havia participado de um movimento para mudar alguns regulamentos e ela não entendia. Um dia ela achou que tinha descoberto a razão. Quando eu levei as minhas coisas para Amparo, ao desfazer as malas, topei com umas fotos de um passeio na praia. Fomos de carro ... de quem? Não faço idéia. Quem estava? Sei que no nosso grupo havia 2 caras com alguma habilidade para desenhar: o Bita (padre, Teixeira, de São Paulo) e o Braz (que mais tarde se tornou Gerente de Treinamento na TAM). Pois bem, eles resolveram esculpir uma mulher nua, na areia da praia, ao lado do carro. Deitada, de costas. E alguém tirou uma foto. E minha mãe viu a foto e achou que teria sido a causa da minha expulsão!!!


Não achei a foto mostrando a mulher esculpida na areia, acho que joguei fora para evitar más interpretações se alguém visse a foto, como ocorreu com minha mãe.

Porto Ferreira

Sei que eu já havia estado em Porto Ferreira, com um grupo de colegas. Lembro que passamos um dia na casa dos pais do Pe. Vanim ... e jogamos baralho o tempo todo, só interrompendo para o almoço ...

Pe. Pavesi – grande amigo

Não sei o que o Mons. Bruno combinou com ele sobre meu “estágio probatório”, e nem qual seria o papel dele com relação a mim. E nunca falamos disso. Fui muito bem recebido. Tornei-me um auxiliar paroquial “de luxo”. Coordenava missas, dava aulas de religião nos colégios (tentava, pelo menos), fazia a “Hora da Ave Maria - uma pequena homilia às 6 horas da tarde, pela Rádio Primavera ‘and so on’. Pensando bem, fui mais um bom companheiro para ele do que um ardoroso seminarista em missão pastoral.

31 de março ou 1º de abril - revolução ou golpe

Fomos pegos em Itanhaem: terminada a Semana Santa, fui até Campinas. No Seminário cruzei com um grupo que ia para Itanhaém na Kombi do Seminário e fui junto. Eram aqueles dias complicados em que os sargentos se rebelaram contra seus superiores em discursos entusiasmados, em que João Goulart periclitava, Brizola se encastelava em Porto Alegre, enfim, a noite do golpe militar. De rádio em punho, acompanhava o movimento. Começaram os avisos “os postos de gasolina vão fechar”. Aí, demos no pé. Subimos a serra bem depressa. Na Rodovia Anhanguera cruzamos com caminhões do exército deslocando tropas e equipamentos de batalha. Muitos deles, canhões e carros de combate quebrados pelo caminho. ‘Credo in cruiz!’

Pe. Pavesi comunista? Lá vamos nós ...

...para a Delegacia local. Como o foram muitos padres nos tempos da dita cuja revolução. Fui junto, é claro, apoio moral. Se preciso fosse, para levar cigarros para ele (nós fumávamos desbragadamente!!!). Mas o Delegado até que estava meio sem jeito, sem saber exatamente o que perguntar. E nada aconteceu.

Pe. Pavesi É comunista”

Sessão especial da Câmara Municipal (irradiada pela Rádio Primavera) para pedir ao bispo que substituísse o Pe. Pavesi. E nós, na Casa Paroquial, ouvindo as barbaridades: “Eu sou católico porque eu vou na procissão ... eu fui na procissão de Sexta-Feira Santa e ouvi o Pe. Pavesi falar no microfone ‘Vamos rezar um Padre Nosso pelos Operários’. Taí!!! É comunista!!!” Os depoimentos foram nesse nível. Conclusão: não sei se por causa disso ou por ocasião disso, D. Paulo de Tarso Campos “promoveu” o Pe. Pavesi para Cônego.

O Padre fugiu”

Estávamos lá saboreando um frangos numa festa, à noite, na fazenda da família Ferrari, quando chegou o “Nego” (sacristão) todo esbaforido ... e tirando ‘sarro’ (como sempre) ... “ah! ainda bem que estão aqui pois corre um boato na cidade que o padre fugiu para não ser preso ...” (Por falar em frango, aquele “frangasco” me deu uma diarréia brava, estava que era só gordura)

E o Ademar de Barros na TV Tupi, Canal 4 – belo espetáculo

Naqueles dias, o governador Ademar de Barros estava na mira dos militares. Para se defender, foi até a TV Tupi e montou um cenário: ao fundo da cena, a bandeira brasileira; na frente da bandeira, num pedestal, Nossa Senhora Aparecida. Ele, sentado atrás de uma mesa, com o terço na mão e se defendendo. Lembro que dizia: “Dizem por aí que sou rico, que nada! Tenho apenas uma fazendinha herdada de minha mãe em Poços de Caldas”.

O ano de mudanças na Igreja Católica e nossa desobediência

  • Os Padres foram desobrigados de usar a batina em público (Mons. Lisboa, de Amparo, deve ter ficado uma fera) e obrigados a usar o “clergyman” ou “colarinho romano”, com se fala hoje. MAS, após algum tempo, a desobediência foi geral. Alguém se lembra dos superiores do seminário usando o “clergyman”? Vi algumas vezes o Mons. Bruno usar quando ia às reuniões das Empresas Nardini.
  • Internet é isso: fui procurar uma imagem dessa vestimenta, na internet, e acabei topando com um site que expõe 25 razões para um padre usar o clergyman. Eu tive um colete desses que usei apenas algumas vezes. Hoje são vendidas camisas que simulam essa vestimenta. Naquele tempo, era uma espécie de colete de frente única, cobrindo o peito, e terminando com uma gola sem abas e com um colarinho branco de plástico dentro. Parecido com esse aí
  • E a grande mudança na Liturgia, que passou a ser em nosso vernáculo (“última flor do Lácio, inculta e bela”). MAS ... foi o ponto de partida de uma certa “liberalidade litúrgica” inicial que hoje está mais contida. Verifico hoje que a estrutura das missas é igual à que foi implantada em 64 e alguns recursos, como os FOLHETOS, pouco mudaram. O que mudou muito foi a parte musical, os cânticos, o acompanhamento com instrumentos, etc. e tal. E os gestos que algumas paróquias usam, elevar as mãos, bater palmas, por exemplo.

Promombó” ou “Bate-bunda” – pepino com cachaça

É um tipo de pescaria, sabia? Fomos algumas vezes pescar em ranchos à beira do Rio Mogi. É prática comum nessas ocasiões (assim como em churrascos) oferecer um tira-gosto para esperar a pesca de peixes grandes ou para manter ocupados os que não vão pescar. Além e oferecer pepino com sal e cachaça (gostoso, como moderação, é claro!), os pescadores foram buscar lambaris e mandis para fritar. Como pescar lambaris em quantidade suficiente? Na vara? Na rede? Não. No promombó. Explicando: os barcos saem perto das margens dos rios com os motores ligados em primeira marcha ou fazendo barulho (= bate-bunda no assento do barco) para assustar os peixes pequenos. Os peixes saltam da água e muitos deles caem dentro dos barcos em grande número. E dá certo.

O Juiz de Direito ‘cachaceiro’ e o Filé à Parmegiana

Às vezes o Pe. Pavesi resolvia almoçar num restaurante que havia no largo principal da cidade. Foi lá que eu comi pela primeira vez um Filé à Parmegiana, que sempre repetíamos. O mais curioso, porém, é que o Juiz de Direito também almoçava lá. Logo que ele chegava, o garçom ia até a geladeira e pegava uma garrafa de cachaça previamente gelada e levava para a mesa dele. Todos os dias. Sem rótulo. E servia em taças. Imagine os julgamentos vespertinos!

O Congresso da JAC e um seminarista em apuros

Linda morena, morena que me faz penar,
a lua cheia, que tanto brilha,
não brilha tanto quanto seu olhar.”

Pois é, lá vou eu para um congresso da JAC – Juventude Agrária Católica. No Seminário Menor de Ribeirão Preto, em Brodoski. E eis que havia um linda morena, alta, um pecado. E não é que num dos intervalos ela, sabendo que eu era seminarista, veio pedir conselhos justamente a mim, sobre seus relacionamentos afetivos. Cruzes!!! Olha, fiz tanta força para evitar que meu pênis denunciasse minha excitação que não pude conter a saída de um jato de urina ... E também devo ter utilizado a velha técnica de ajoelhar e depois sentar nos degraus da escada onde conversávamos.

Aliás, conheço um cara que se masturbou pela primeira vez aos 33 anos de idade

Eu.








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