domingo, 12 de agosto de 2012

DIÁRIO APARECIDA DO NORTE - 1960/61


2º ANO DE FILOSOFIA EM APARECIDA DO NORTE - 1960

 
Tudo passou, assim como tudo passa mesmo.

Já estou no dia 10/II/1960 – Quarta-feira
Último dia de retiro. Já se passaram as férias, já voltamos, os novos já chegaram. Já fizemos novos rumos para o ano, já matamos a saudade do basquete, já ...
Seria bom fazer um retrospecto das férias, já que não escrevemos diariamente. Férias boas. Bons passeios; no sítio, faiô... muita chuva. Araras, dia 20, bela cidade, ordenação dos padres Lanza, Longhi e França. Depois Indaiatuba, já conhecida por nós, 1ª missa do Pe. França. A Campinas não fui... intestinos... Monte Alegre (do Sul), ah! Monte Alegre... ; casa da Téia e do “Cunhado” (Osvaldo).
Muito xadrez (explicação: comprei um livro de xadrez e reproduzia, sozinho, os jogos famosos; em Amparo, as férias eram muito chatas pois tinha que usar batina o tempo todo, só ia até a Igreja e voltava, a todo pique... de batina era muito ruim você parar em frente a uma vitrine, por exemplo... parecia que você estava vigiado o tempo todo), muita música: Oh! Carol, Noite de meu bem, Quero beijar-te as mãos minha querida, Lacinhos cor de rosa, Cinzas do passado, E daí e daí, Se acaso você chegasse, Lua azul, Concerto n°1 de Tchaikowski (Ray Connif), Quero chorar, Ôclides, Me dá um dinheiro aí, Foi na bodega, Que é, Creia, Vagabundo, etc., muito rock-balada e balada (que beleza, hein!). [Velha caneta da Lourdes] (escrevi com caneta que minha irmã mais velha, Lourdes, a única das minhas 3 irmãs ainda viva, usava).
E os cinemas? Dez Mandamentos, Contanga (!), O velho e o mar, Matar para viver (Indaiá), Os heróis estão cansados, o Mago (Cantinflas), Brutos em luta, O terror do Himalaia, Paris Palace Hotel, 20 milhões de léguas da terra, Quando o sol se esconde, e, finalmente, como fecho de ouro, A ponte do Rio Kwai. Muitos filmes, muitos abacaxis, 2 ótimos, 3 mezo-a-mezo. O resto...
É, o Palmeiras ficou campeão mas ganhou 2 pontinhos perdidos na tabela contra o São Paulo: 2 x 0. Gols de Gérsio e Vitor... é o maior ...
Amparo. Jardim novo. Prédio do Hotel, parado. Saiu o Pe. Sebastião, entrou o Pe. Cardinalli, saiu este e veio o Pe. França. Afinal, Mons. Lisboa tem ou não muita influência junto a D. Paulo?
Apostolado? ... Nada mais que algumas reuniões. Monsenhor prometeu mais trabalho para outras férias. A gente sente mesmo satisfação (proveniente do orgulho?) ao falar coisas simples, em palavras simples, a gente simples, mas coisas divinas. Dar um pouco aos outros das nossas experiências.
Por falar em Monsenhor... Ah! Monsenhor, assim não! ...
Em Amparo o que não deu a falar a retirada do retrato do Ademar de Barros. Ele não tem mais vez, mas tirar o retrato... ?
Dia 22 de fevereiro de 1960 - segunda
Chegamos. Às 21:30. “Os senho-r-es estão um pouco at_r_azados”. (certamente imitando a fala do Pe. Abib que tinha um ‘erre’ gutural) Não faz mal. Tinha mais 3 companheiros: Campregher, Italiano e Wanderley.
Sacristão, hein? ... Gostei do cargo, deveras. Até agora não pus vinho na boca.
Os novos chegaram. Moreira, meu “pupilinho”. (= eu era o ‘anjo’ dele) 56 novos do 1° ano. Virão os 2 de Botucatu, que estavam em Viamão, para o 2° ano.
Veio depois o retiro. 4 dias. Fr. Godofredo, confessor. Simplicidade franciscana. Fiz confissão geral com Pe. Ludovico de Guará (aquele que nos vai dar a máquina, que ainda não veio) (?)
Dia 14 saiu o 1° PRISMA (mural sobre cinema, do grupo de cinema C.E.C). Apresentação. Hoje deveremos nos reunir para tratar assuntos referentes ao C.E.C. (Círculo de Estudo sobre Cinema)
Por falar em CEC, já assistimos um bom filme: “Sissi e seu Destino”. Diretor: Ernst Marichka. Sissi: Romy Schneider; sua mãe: Magda Schneider. Filme leve, pomposo, brilhante. Lição: creio ser a bondade, que é representada pela pessoa de Sissi. Atuação: esplêndida!
A casa vai do mesmo jeito. Só Pe. Expedito (novo Ministro da Disciplina, substituiu o Pe. Leocádio) (parece-me que melhorou) e Pe. Mosquini (professor de Economia Política, recém chegado de Roma). Esportes entre novos x velhos. Futebol: 6 x 6. Basquete: 1° jogo, 33 x 31; 2° jogo: 39 x 30. Vôlei ainda não houve.
O campeonato de basquete vai começar, meu time: Wanderley, Bento, Efori, Eu e Monteiro. Era para começar amanhã mas a chuva vai atrapalhar. O futebol vai começar; estou no time do Ildefonso.
Por falar em futebol, deverá sair dentro em breve a “Janela Esportiva”, com a minha sessão “Sabia que... “ (?)
Reunião da Diocese já saiu: 14 elementos; com a saída do Beltrame (e entrada do Mateus), foi eleito o Claret para coordenador. Mateus e Ming, a parte social.
Aulas, a semana inteira, sem nenhuma vaga. Que horror! ... Nós estamos com 33; o Fabiano virá mais tarde.
Pretendo pertencer a mais um círculo de estudos: JOC ou JEC? (Juventude Operária Católica e Juventude Agrária Católica)
Estou um pouco doente. Depois de umas dores nas regiões do apêndice, deu-me íngua e aquela coisa na canela. Se continuar assim, terei de ir ao médico, e, por conseguinte... mais dinheiro.
A carta que escrevi para casa não foi respondida. É capaz que na próxima eu peça notícias e dinheiro. É o Thonnard... ! (autor de Compêndio de História da Filosofia; acho que precisava de dinheiro para comprar esse livro)
Fiquei um pouco na baixa (ficar na baixa – expressão corriqueira na época) esses dias. Chuva... chuva... e mais chuva ...
Escrevi isso tudo porque resolvi a (re)começar mês – s – smo. Até agora foi quase tudo em brancas nuvens... Parece-me que vou ter um pouco de trabalho. Saí da Schola (Cantorum)... Quase que ia me esquecendo: li já 2 livros: “25ª hora” – Espetacular! Pessimismo até ao último grau. Condena a tecnocracia, que vê no homem como uma peça de máquina e não como indivíduo humano. “Nem Cristo salvaria a humanidade”, pois os homens materializados como estão não têm espírito, não pensam, movem-se automaticamente. A Rússia não é nada mais do que a prática integral das teorias norte-americanas ... É exagerado mas tem umas boas carradas de razão.
O outro livro: “A Cidadela” – Cronin; leve e bonito. Crítica ao charlatanismo e cobiça dos médicos dando remédios falsos a quem não precisa, etc. etc.... Ficando rico, fica insensibilizado, autômato, na “high-society”. Assim é que dá gosto assistir aula. (= lendo outros livros...)
Hoje vamos ter reunião do CEC.  

24 de fevereiro de 1960
Ontem, nada escrevi.
Parou um pouco a chuva ontem mas começou de novo um pouco antes das 3 horas. Mesmo assim houve um jogo estréia do campeonato com a presença do Sr. Sólon Pereira. (Prefeito eleito de Aparecida do Norte para o período 1960 a 1963, não me lembro se ele foi o preferido dos seminaristas) Hoje também parou um pouco. Quando saímos no recreio, para começar o 1° jogo do campeonato... chuva... Bilhar...
Por falar em Bilhar, ontem era para o padre comprar o giz, mas... será?
Com umas aulinhas agradáveis, o tempo passa mais depressa.
Ontem apareceu a “Janela”... hoje o “Democrata” (jornais murais)
Baixa... baixa... e mais baixa!!!
Acabei “As Chaves do Reino” (romance de A. J. Cronin, virou filme com Gregory Peck no papel do padre). É o fim ... Mensagem: não é só a Igreja Católica, ou melhor, para entrar no céu basta amor a Deus e ao próximo. Tolerância. É a vida de um padre, com muitas dificuldades, desde criança. Não é impossível de acontecer. Nem sei me expressar direito. Grandes ensinamentos se podem auferir com sua leitura.
25 de fevereiro de 1960
Poesia ultrarealista futurística:
Chuva... chuva... chuva...
Baixa... baixa... baixa...
É... desde sexta. São Pedro está com “ele” (desconfiômetro) desligado, é claro!
Joguei umas 5 partidas de xadrez e perdi todas para o (Celso) Ming (hoje editor de Economia no Estadão, da turma de 1953). Preciso treinar para o campeonato. Houve saída... mas... de que jeito?! O pior foi que, enquanto uns saíram, outros foram para o estudo.
O IKE (presidente norte-americano, Eisenhower) chegou a São Paulo. Nem assim fomos ver pela televisão. Visitou Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo tem mesmo prestígio.
26 de fevereiro de 1960
Chuva. À tarde descobriu-se uma nesga do céu, possibilitando-me a ver o sol. Houve uma peladinha. Não joguei.
Mas esse Machado é intragável mesmo... (falando mal de Machado de Assis)
O Pe. Expedito me disse: você precisa não... dos... comunidade (?!). Muito obrigado. Franqueza, acima de tudo, é o que aprecio.
IKE foi embora todo contente. Pena que tenha havido aquele desastre com a banda dos Fuzileiros Navais norte-americanos. Chocaram-se no ar com um avião da Real. Acho que todos estão mortos.
Comecei a ler “Senhora”. (José de) Alencar é sempre Alencar; incomparável... no seu gênero, é claro! ...
27 de fevereiro de 1960
Parou um pouco a chuva. Quando, porém, descemos para o café das 3 horas, começou a chover. Nada ainda de campeonato de basquete. Só mesmo peladinha. Mas, quanto tombo, hein?! É para tirar um pouco a monotonia da vida.
As aulas (Deus me perdoe) estavam... nem falo; e que fome, depois...
Agora mesmo arranjei a fotografia do nosso time de basquete no 2° jogo contra os novos: 39 x 30.
29 de fevereiro de 1960
Ontem, dia completamente insípido...
Cedo tentamos jogar campeonato, a instâncias (uau!) do Pontes. Chuva, campo molhado, bola lisa, 2 substituições (uma das quais despropositada), falta de 1 juiz, etc., tudo isso fez-me protestar junto ao Pontes. Perdemos: 19 x 15. Ele disse que ia haver não sei o que, para resolvermos (não sei se saiu...); até agora, nada. Parece-me que vai ser invalidado o jogo.
De resto, nada. Ah, agora me lembra. O Lot (Marechal Henrique Teixeira Lott, adversário do Jânio Quadros na disputa para Presidência da República) veio a Aparecida; só não veio ao seminário porque estava atrasado e tinha compromisso. Que pena...! (?) Não vou votar nele mas queria conhecê-lo, ao menos.
Hoje, como soe (acontecer), chuva... Nada de jogos. Adoração (é carnaval!) (= atividade religiosa durante o carnaval, adoração ao SS Sacramento), como ontem. Outra coisa... Ontem, Pe. Glauco tomou posse de sua paróquia de Roseira. Parabéns.
Canôas, excelente amigo, enviou-me uma missiva. Preciso responder-lhe
Jesus Urteaga (padre da Opus Dei; tem site com frases dele) é grande mesmo: o desalento da alma é pior que o pecado mortal. Devemos nos libertar dos sentimentalismos religiosos. Devemos pratica (devo!...) piedade viril, se não, não vai mês – s – s – smo. !!! (piedade viril? Que catzo é esse?)
4 de março de 1960
Baixa tremenda. Não sei porque... Foi tudo bem, hoje. A prova de Cosmologia, barbada. O resto, bem. Não sei porque!...
Nesses dias atrás quase nada de mais.
Ontem, isto é, terça-feira, esteve aqui o juiz do caso Aída Cury. Sr. Valadão. Explicou-nos tudo, tin-tin por tin-tin. (Aída Jacob Cury foi jogada de cima de um prédio em Copacabana em 1958. Não sei exatamente o porquê dessa palestra, talvez por ter um irmão sacerdote, Maurício Cury).
Ontem, Pe. Expedito nos falou... exame de consciência do mês sobre disciplina.
Terça-feira houve umas festinhas aqui de Carnaval. Excelente. (?!?)
E a chuva parou, enfim. Arre!
22 de abril de 1960
Meu diário, como vai? Há quanto tempo não te vejo? Bem, desejo conversar contigo mais frequentemente.
Passou o mês de março com a festa do terceiro ano, com a bonita festa de S. José: Missa cantada, Vésperas cantadas, cinema: “Volta ao Mundo em 80 Dias”. Futebol contra os de Guará, ou melhor, contra o La Salle (não o Colégio La Salle).
Passou já quase todo mês de abril, com o meu aniversário, com o retiro da Semana Santa (que belo retiro...!), a Paixão do Senhor e a nossa Páscoa da Redenção – nossa sim porque foi para nós... Passaram as canseiras de sacristão.
Passou ontem o acontecimento esperado tanto: inauguração de Brasília; Brasil, acorde! Mostre toda sua pujança. Agora que temos nova capital, novos brasileiros deviam surgir... chega de politicalha, chega de “marmelada” ... brasileiros patriotas, homens com virtudes humanas completas (divinizadas pela graça)! (?!?)
24 de abril de 1960
Festa de S. Benedito. Muito rojão, muito preto (politicamente incorreto!). Dia comum. Veio a turma da Paróquia de N. S. de Fátima. Perderam os jogos. Turma animada.
Veio o Célio aqui na carteira: trabalho de Economia Política. Mas, e o tempo? Na semana santa não deu “mesmo”. Antes não tive tempo? Não lembro, mas acho que não houve. De tudo isso (não fiz até agora o trabalho) tiro a conclusão que se deve fazer o quanto antes qualquer tarefa ou obrigação, ta?
Ontem o Pe. Abib deu sérios avisos: chegar atrasados em passeio – graças a Deus não fui eu; ficar sentado nos jardins frequentados (?!?), etc. – nem; falou boas verdades, foi objetivo, assim é que eu gosto! ... (hum!)
Cardeal Cerejeira (Patriarca de Lisboa), de volta de Brasília, esteve aqui; que simpatia e que simplicidade!... espetáculo!... Vi também a Cruz de Cabral; gravada está em minha memória (uai, onde estará? Memória deletada?). Faço votos que o Brasil seja descoberto de novo...! (?!)
Carta de casa. Todos bem. Nada de aposentadoria (3 meses), nem emprego (concurso) para o Clésio. (mais tarde ele passou num concurso para Inspetor de Alunos)
25 de abril de 1960
Arre! Fui falar com o Pe. Espiritual. Muito bom padre. Pontos positivos. Semana de Aperfeiçoamento: orações nas aulas, no refeitório (grande idéia) e combater o orgulho opondo coisas contra o mesmo... Graças a Deus...
Hoje encheu a horta de gente. Houve comício ontem, com sorteios de $50,00 por 15 dias. Agora sim, vai gente. (este trecho parece samba do criolo doido, mistura hora com comício!)
25 de abril de 1960
Nem hoje fui ao Clube Agrícola. Vagabundice. Se amanhã nada houver em contrário, irei...
Em ver de ir, fiquei batendo bola para dar “cum quibus” para o banho frio. Nem fui tocar sanfona, que (ela) até já me esqueceu. (ameacei aprender sanfona com um cearense que vivia tocando uma canção assim: “Quando a gia canta, na beira da lagoa, é sinal de chuva, aí meu Deus que coisa boa, foi, foi, foi, não foi ... - de Zé Gonzaga – internet. Um dia roubaram a sanfona do colega e o Ito, um gaiato que desenhava bem, fez um cartaz com um cara correndo com a sanfona e com o título ‘A Fuga do Baixo”)
Por falar em frio, parece que este ano teremos mais frio que o ano passado.
O Pe. Claudino, na aula, falou de um tal método novo que ele iria adotar no 2° semestre. Que será, será!...
29 de abril de 1960
Quarta-feira houve aquela bacana aula de arte-sacra em que nós vimos Brasília. Grande! (?)
Afinal, ontem tivemos o filme marcado para quarta: “Sementes de Felicidade”, muito bonito. Colorido. Belíssimas músicas. A gente sai desses filmes com uma boa psique, na alta. Pena que estivesse um tanto cortado. E a “tremerama”. Foi bobagem termos comprado – ou ganhamos? – essa máquina.
Começou novamente o campeonato com um empate nosso: 2 x 2.
Hoje, dia normal. Bem aproveitado. Quase quebrei a caneta – esta que está escrevendo; deixei-a cair no chão, sem tampa. Entortou um pouquinho mas dá para escrever. Inda bem. Ficou boa. No recreio joguei basquete, pulei altura, trabalhei no campo e assisti jogo. E aquele trabalho sobre as Mães. Será que sai? Videbimus! Duvido – o – o!
30 de abril de 1960
Mais um mês. Assim o tempo passa, E eu? “In ipsa” (=na mesma)
Meu diário, digo-o bem baixinho a ti – e bem alto ao Senhor – não é bom começar uma vida melhor? Em muitos aspectos? Mais generosidade!... Valor divino do humano.
Parece que o Pe. Expedido vai falar daqui a pouco.
Choveu hoje. Nada fiz no recreio. E a sanfona? Esqueci-me dela? “Tadinha!”...
Ontem tivemos a reunião da JEC (Juventude Estudantil Católica). Creio que assim não dá. Devemos fazer as reuniões com menos gente – divisão da turma – e cada dia, “fora da sala”, sem protocolo, cada um exporia. No fim do mês...
E a turma lá em São Paulo? Senhor, não os deixeis em desunião... Mas, afinal, resolvem ou não?
4 de maio de 1960
Meu diário, aqui estou novamente. Gosto de confiar-te minhas cogitações...
Hoje fizemos a reunião (dos seminaristas) de Campinas. Reunião muito boa, ótima mesmo para mim. Ventilamos vários assuntos. O Mateus falou sobre o ideal... Espetacular. (se não me engano, esse colega Mateus teve sérios problemas com os gânglios linfáticos e veio a falecer) Depois falamos sobre reunião de férias (deixar que a turma de S. Paulo resolva). Começar as especializações – catequese, ação católica, etc.; Padres aniversariantes (lista); as reuniões devem ser bem divididas, etc. Mas o que ficou mais, mesmo, foi o negócio do ideal. A comunidade vai bem. Que será? Dever-se-ia estudar na próxima reunião ... A principal coisa messsmo acho que é o ideal; “os seminaristas não vibram com o ideal” (Pe. Expedito). É a malfadada burguesia, pacatez, o “deixar a coisa correr”. É preciso acabar com isso, de todo jeito, viu Sr. Daólio. (obrigado, Senhor ! pelo aviso). É isso o que te queria dizer, meu diário, e o que já disse para o nosso Cristo?
Daqui a pouco começam os estudos sobre Liturgia e Gregoriano. Deverei tirar o máximo proveito desse estudo.
No dia em que estiveres triste, seu Daólio, volta o ao dia 4 de maio... Parece que foi neste dia o meu batismo. Será que agora fui batizado com o ideal? (uau!)
9 de maio de 1960
Acabou-se o congresso. Amanhã = aulas.
Houve 3 dias sobre Liturgia e Canto Gregoriano. Por Dom Enoux, Diretor do Instituto Pio X. A turma não gostou muito, nem eu. Duas coisas proveitosas: o Canto Gregoriano e aquela explicação simples da missa (“coram populo”, os 3 dias). (= voltada para o povo)
Ontem foi o dia das Mães, de Mamãe. Escrevi-lhe uma cartinha. É difícil se expressar em palavras mas... “(verba volant) scripta manent” ... (as palavras voam, o que é escrito permanece) simplicidade, sinceridade. Simplicidade = característica de Deus.
Ontem houve ainda “Mortalmente Perigosa”. Policial. “Bacaninho”. Algumas cenas demoradas, inúteis. Apresenta o mal mas combate-o com a morte de Bart e Laurie. Mostra também como de uma brincadeira inocente a princípio originou-se toda a complicação da sua vida (influência da mulher...)
14 de junho de 1960
Outra vez me encontro contigo... Estranhas a pena? É a caneta ganha nas Olimpíadas ... é mesmo, aconteceu tanta coisa nesse ínterim. Agora já estamos às portas do exame. Cavamos mais dois feriados para estudar: sexta e sábado; pudera, temos mais dois monsenhores: Mons. Alberto Abib Andery e Mons. Expedito Marcondes.
Me perguntas o que houve nesse ínterim? O que mais gostei?
O agradecimento de minha mãe à carta que eu lhe mandei. Obrigado pelo agradecimento, mamãe.
A direção espiritual. Boa, mesmo. Saí de lá com coisas muito positivas. Fiz a direção, mesmo.
O (Newton Aquiles) Von Zuben foi embora. Vai para Louvain. Sorte dele. Ah, se fosse eu... “Fiat voluntas tua” (= seja feita a sua vontade). Ele merece mesmo que eu, em Filosofia... sou + ou menos um ‘cano’. (conforme o Mons. Luís de Abreu, eu fui o indicado para ir a Louvaine, porém, como o von Zubem tinha um tio padre que financiava a viagem, eu fiquei e ele se foi ... como minha vida teria sido tão diferente se o acaso não tivesse interferido ... digamos)
Nomeação do Con. Melilo (antigo Reitor do SIC, antes do Mons. Bruno) para Bispo de Piracicaba. Parabéns, Cônego Melilo. Bom pastoreio.
Bem, meu diário, por hoje é só. Tudo que eu te digo, digo-LHE também ali em baixo, tá? O que? Ah, já sei o que me estás dizendo. É, é verdade. É preciso fazer as coisas quanto antes; não deixes para amanhã o que podes fazer hoje...
Obrigado, Pe. Claudino, pelos elogios feitos ao meu modesto trabalho ... “Descartes e o Existencialismo” (“Publique no jornal da sua terra”, (disse ele)).
3 de agosto de 1960
Como vai, “my diary”? Eu estou bem. Desculpe a ausência. É, te admiras? ... Nas férias é duro mesmo... O que aconteceu nessas férias?
Assisti à ordenação (sagração) de D. Melilo.
Fui a Monte Alegre. Lá li os seguintes livros: “Sob a Luz das Estrelas” (Cronin) e “O Segredo de Florence” (Aventuras de Arsène Lupin).
Fui à festa de D. Paulo. Quantos bispos...! E que almoço! ... Também fui copeiro, ou melhor, garçom.
Fui a Souzas. O Pe. Constantino é um tanto tímido, receoso. A paróquia também é um tanto fria, hein! Fui lá a Joaquim Egídio. Serviu pelo menos como experiência. Em Itapira estava boa a coisa, messsmo.
Escrevi para o Ildefonso e ele me respondeu. Muito obrigado! ...
Bem, eis-me aqui de novo. Com novo ânimo. Agora o negócio precisa ir para a frente, ELE precisa aguentar lá que o papai aqui não é de nada. Bem, faremos o possível. Em todos os setores, ataque em massa. Vamos ver se não fico só em fogo de palha. Milagre não pode haver mas deve haver progresso, pois ficar no lugar é regredir. Precisa-se levar como no futebol de hoje. Todos cooperando para um único fim...
Está estranhando a luz? É do novo quebra-luz. Estou no estudo do meio. É melhor, não?
8 de agosto de 1960
Véspera de um feriado. Fui trabalhar na horta. É um triste começo, com 5 bolhas... Farei esforço para ir mais vezes ajudar lá um pouco, o mínimo que seja.
O exame “De Universa” vem mesmo. Este ano mesmo. É bom ir recordando o defunto Morandini e o Dezza (autores dos livros didáticos de filosofia).
Já assistimos a um filme: “O Tesouro do Barba Rubra”. Bem sofrível.
Já li inteiro o livro “Os Santos vão para o Inferno”. Muito bom. Realista, do tipo do 25ª hora. É o problema dos padres operários. Que cristianismo vivido!...
Será que o CEC vai para a frente, ou não?...
5 de novembro de 1960
Acabei aquela vez com uma pergunta sobre o CEC. Agora respondo: Foi, foi mesmo. Acabamos o fichário (ou quase), fizemos reuniões regulares, o “PRISMA” saiu regularmente, escrito, de 15 em 15 dias. Além do “Tesouro do Barba Rubra” tivemos: “Periscópio à Vista” (+ ou -), “Orfeu” (Jean Cocteau, Jean Marais), “O Homem da Cruz” (abacaxi de Roberto Rosselini), “Aquele que Deve Morrer” (com Jean Servais, etc.), sem dúvida o melhor, “Rota para o Inferno, “Os Últimos Dias de Pompéia” (Steve Reaves, Christine Kauffman, Barbara Carrol) e “Canção do Sul” (Walt Disney).
Pe. Vanin esteve ontem aqui com os sextanistas (vieram anteontem). Disse-nos umas boas palavras (ótimas) sobre a reunião de férias e sobre a nossa situação aqui, que está ainda “naquela base”. A turma não está revoltada exteriormente (medo ou...?) mas interiormente. Não se pode viver uma vida assim. Outra oportunidade direi aqui meus pensamentos.
Olimpíadas ontem. Perdemos: 5 – 5 – 5. Que azar, mais do que pena.
Além de “Santos Vão para o Inferno” li ainda um da Biblioteca de Seleções (História do FBI; Futuro para Três), “Cela da Morte”, “Dom Casmurro”, “Almas em Conflito” (Jardineiro Espanhol) de Cronin, e agora estou lendo “Dr. Jivago”. Li também “Pajuçara”, de Oliveiros Litrento.
Eleições do Grêmio; eu subi como Vice-Presidente. Mais dor de cabeça mas maior dedicação aos outros; portanto, mais alegria. Saiu briga como no ano passado.
Hoje, dia de preparação, vai haver estudo à noite, “pero com mucha dificuldad”. Porém, vamos ler umas palavras de Pasternac.


3º ANO DE FILOSOFIA EM APARECIDA DO NORTE - 1961



12 de abril de 1961
São 17:45.
Ora, para que deixar para outra vez? Já que peguei no caderno para tirar umas folhas, aproveito para traçar linhas.
Agora não está mais “naquela base”.
O seminário subiu espetacularmente de produção. Pe. Miele, nosso novo espetacular (messsmo!) Reitor deu formidável impulso. Reina calma no ambiente, confiança. “Bandeira branca”, como diria o Sebastião.
Liturgia, Diretórios, tudo são melhoramentos (e o colchão de mola?!) (até então, pelo visto, eram colchões de crina)
Mais uma vez confirmou-se minha tese: com jovens, moços, para fazer alguma coisa precisa antes cativá-los, obter-lhes a confiança, o coração, se não... águas abaixo.
Não é por isso que está mais fácil, não! A vida está apertadíssima. Hoje mesmo eu entreguei um trabalho de Ética com o qual eu dispendi uns 6 dias, e olha lá! ... Os estudos subiram de tempo e de rendimento, com provinhas mensais. Recreio diminuído.
Mas está ótimo. O que importa é o ambiente, que ajuda ou prejudica a formação.
O CEC vai indo, com 13 elementos, 10 novos (não novatos). Estudamos o curso do ACB. (?) Planos para o futuro: impressos, conferências sobre cinema, etc., etc.
Filmes? “A Verdade não tem Fronteiras”, “A Fera de Budapeste” (bom) e “O Paraíso Roubado” (Ernst Marichka, com Anie Rosas, Hans Holt), “Guerra e Paz” (King Vidor, com Audrey Hepburn, Henry Fonda, Mel Ferrer, John Mills, May Britt, Anita Ekberg, etc.) (nesse filme eu vi a cena mais bonita de valsa do cinema... na minha pobre opinião)


Datilografado e anotado em 9 de agosto de 2012.

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