Luiz Carlos Daólio - de 1965 até (?)
Esta
crônica tem data de início e não tem data de fim porque não
saberia localizá-lo no tempo. No espaço até daria: foi quando fui
morar com os Pes. Malvestiti, Pedro Piacente (Lota) e depois Ferraro
na Casa Paroquial do Cura D’Ars. E ali morei até entrar no SENAC,
em 1976.
Porém,
recebi um Calendário “Gregoriano” (= feito pelo Grego) e alguns
fatos poderei localizar no tempo. Outros, não.
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Ano de 1965 - Calendário
“Gregoriano”: o Grego entrou no 1° ano e eu retornei; o SIC
estava funcionando normalmente, com ginasial e colegial; havia feiras
de ciências e concursos de desenho; houve poucos filmes e muitas
peças teatrais.
1965 – De volta, como superior
Não sei o dia nem a hora da volta. Como “Clérigo”,
assim está nos primeiros registros de pagamento das aulas. Tomei
posse do quartinho (sem banheiro) que ficava na ala dos padres e
professores, 2° andar, parede-e-meia com a capela, perto do acesso
ao coro. Não sei como foi a conversa com o Mons. Bruno, não sei se
já previam alguma atividade para mim. “Flashback”: vejo que
estou no refeitório dos padres e então ....
(Cerimônia da minha Tonsura, no Seminário do Ipiranga, o que tornava a pessoa um “Clérigo”. Para me aposentar, o INSS considerou como a data inicial para contar a aposentadoria) |
De repente, viro professor
A cena é imprecisa. Vejo o Pe. Hugo Antoniazzi,
Prefeito de Estudos, me perguntando se eu poderia dar aulas de latim
no lugar dele, no 1° ano. E eu dizendo que “vamos lá”. Ele me
deu algumas dicas sobre uma técnica que ele usava para ensinar
nominativo, genitivo, ablativo (...) que tentei aplicar mais tarde
com pouco sucesso.
Não sei se foi nessa abordagem e nesse ano que
assumi também Ciências (por um ano, acho) e Geografia.
Por falar em Geografia ...
O livro didático adotado era de autoria de Aroldo
de Azevedo. Famoso. Era adotado por 10 entre 10 escolas, à
época. Antes da primeira aula abri e li o título: “América
Setentrional” – setentrional? O que é mesmo? Ah, meridional é
hemisfério sul e setentrional é hemisfério norte. Se eu tive
dúvidas, como seria com os alunos? Inventei então de fazer uma
pesquisa. Pedi aos alunos que indicassem as palavras que não
entendiam, na primeira página apenas. Resultado: 22
palavras eram incompreensíveis para algum dos alunos. Então
comecei a “traduzir” o texto para que entendessem.
Por falar em Ciências ... um segrego só hoje revelado
De vez em quando eu levava até o meu quarto um ou
outro aluno mais interessado para mostrar, no microscópio, alguns
vermes presentes na água do chafariz do claustro. Foi motivo para
“um cara” (vou contar o fato, mas não o fautor) suspeitar que eu
estivesse fazendo pedofilia. Além disso, esse cara começou a me
importunar, fisicamente. Com certa freqüência e insistência. Uma
vez, ao sair do banho (meu quarto não tinha banheiro), “o cara”
se aproximou e tentou pegar meu pênis. Relatei a Mons. Bruno os
fatos, até por escrito. Mons. Bruno chamou e o assédio terminou.
Nunca havia comentado esses fatos com ninguém.
“Nomina stultorum ubicunque sunt locorum”... e o facebook
Um dia entrei na sala de aula e vi a lousa cheia do
nome de um dos alunos. Acho que foi o Bressan. Corrijam-me se tiver
enganado. Aí dei um castigo. Mandei escrever não sei quantas vezes
o refrão acima, que significa: “Os nomes dos tolos estão em todos
os lugares”. No Facebook, por exemplo?
Será que poderíamos aplicar esse provérbio às
redes sociais? Facebook e quejandos?!
Seu José da portaria ... Sonata
Aos domingos o seu José, pela manhã, antes de
colocar seu chapéu e dar um giro pela cidade, como fazia
habitualmente, escutava suas músicas. Eu sempre dava uma parada para
trocar umas palavras com esse senhor, torcedor da Portuguesa, uma
figura sem passado e de futuro desconhecido. (É mesmo? Para onde ele
foi quanto o seminário fechou?)
Um belo dia ele perguntou se eu queria comprar o
aparelho de som dele, uma Sonata. Comprei. Um toca
discos manual com um amplificador interno e um alto-falante.
Portátil. Pois é, para ser transportada era só encaixar o toca
discos dentro da caixa e fechar a tampa. E tinha uma alça para
carregar. Levei também toda a sua discoteca: uns 6 LPs com
marchinhas de carnaval antigas, uns 3 Dilermando Reis, um Sílvio
Caldas, e vários Miguel Aceves Mejia. Só me desfiz destes últimos.
Hoje os manteria para ouvir de vez em quando seus gritinhos: (“cu
cu cu ru cu Paloma”).
O bolinho de arroz encharcado de óleo
Eu era muito presente nos recreios. No recreio após
o almoço era comum eu ser visto na porta do hall que dava para o
galpão dos menores e ficava olhando o movimento, conversando. Um
certo dia senti uma forte tontura que durou alguns segundos. Esse
fenômeno se repetiu outras vezes, sempre após o almoço. Com o
tempo descobri que era uma reação do organismo ao bolinho de arroz,
ao excesso de gordura da fritura. Desde essa descoberta nunca mais
aceitei bolinhos de arroz.
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Ano de 1966 – Calendário
Gregoriano: Faur assumiu como Ministro da Disciplina; a biblioteca
foi reorganizada; Bruninho, professor de Ciências; conjunto de bossa
nova com Canôas, Daólio, Bruninho e Raul (e
Gessé?); “conceitos” ao invés de
“notas”; muitos filmes que eram buscados na Escola São José
(pelo Nelson Bom e às vezes eu mesmo,
que estava aprendendo a dirigir com o Nelson Bom);
inaugurada Sala dos Maiores; meu nome aparece como redator das Atas
das reuniões dos professores.
Prefeito de Estudos, as modas pedagógicas e os Conceitos
A área de educação sempre passou por umas “modas”.
Nessa época as duas mais populares foram a Matemática Moderna e o
Estudo Dirigido. Mas a pior delas foi a adoção dos “conceitos”,
ao invés de notas. Imagine você o coitado do aluno que tirou um 3,
não seria melhor chamar de “fraco”, ou “ruim”? A nota é uma
coisa muito fria. A nota só confere o conhecimento. O conceito é
uma medida mais abrangente (sic?) e por aí iam os argumentos a favor
dos conceitos. Resultado: por um bom tempo usou-se uma cartilha
interpretativa do tipo: 9 a 10 – ótimo; 7 a 8 - Bom; etc. E essa
cartilha tinha que ser usada quando um aluno era transferido para
outra escola porque cada escola tinha suas escalas próprias de
conceitos. Qual a vantagem dessa mudança? Nenhuma.
Prefeito de Estudos com ajudante
Num certo momento sugerem que eu aceite o Luiz Carlos
de Freitas como ajudante. Um dos argumentos era que ele era vigiado
pelos militares e precisava assim de um certo refúgio (?). Mas foi
um bom ajudante. Foram invenções dele aqueles quadros onde eram
afixadas bolinhas de diversas cores para indicar a posição dos
alunos com relação a suas matérias. Ele levava muito a sério o
estágio dele, aluno que era da Pedagogia na PUC Campinas, junto com
o José Baus (Psicologia) e o Luiz Carlos Moura (Línguas).
Música ... os ”shows” de MPB
Pe. Canoas e eu promovemos 3 shows internos de MPB.
Talvez para contrabalançar a invasão de Jovem Guarda e guitarras
elétricas. Essa “invasão” pode ser vista nas muitas fotos
expostas no site ex-SIC com as bandas que o pessoal criava. Datas?
Talvez 1965, 1966 e 1967/68.
- O primeiro foi montado pelo Pe. Canoas. Acho que não teve um roteiro. Ele ia falando das músicas e nós (ele, eu, Gessé, Bruninho, Raul) cantávamos. A mais famosa acho que foi “Tempo de Guerra” tirada da peça Arena Conta Zumbi. Era bem ‘revolucionária’. Exemplo de versos: “Eu sei que é preciso lutar, eu sei que é preciso morrer, eu sei que é preciso matar”. Edu Lobo e Guarnieri. Acredito que eu tenha participado também como baterista.
- O segundo, montado por mim enquanto ficava olhando os alunos no estudo grande lá de cima, tinha 2 partes: Homenagem a Caimi e “Ode à esperança”. Na 1ª parte o Guerreiro lia um texto que introduzia as músicas e nós cantávamos. A 2ª parte era um desfile de músicas dos festivais da Record. O título incute a idéia de que as coisas iriam melhorar (estávamos na época do governo Costa e Silva, ditadura que proporcionou uma grande degola de artistas e músicos em 1968, se não me engano). Havia frases musicais do tipo “o dia vai chegar, e o mundo vai saber, não se vive sem se dar”.
- O 3° foi pensado para mostrar como a MPB estava mudando. O ‘tchan’ foi rodar um documentário de imagens tiradas por uma nave espacial enquanto se cantava uma música do Gilberto Gil (Lunik 9) que dizia: “Poetas, seresteiros, namorados, correi, é chegada a hora de cantar as derradeiras noites de luar”. Por causa da chegada do homem à lua. Então, deve ter sido em 1969. Só Canoas e eu. Além dos seminaristas, teve a presença das noviças do Convento da Betânia, onde eu era Capelão.
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Ano de 1967 – Calendário
“Gregoriano”: o colegial do SIC foi embora, para o Pio XII e
ninguém foi para o Seminário do Ipiranga; introduziram atividades
no horário do esporte, 3 dias por semana; todo mundo assistia a
“Jovem Guarda” aos domingos na TV que ficava na sala atrás do
palco; também à Família Trapo, Show do Dia 7, Renato Corte
Real; apareceu a Margarida.
Por falar em TV – Cônego Luís e seu “controle remoto”
O aparelho de TV do Seminário era “importado”,
tinha vindo dos EUA e acho que era do Mons. Bruno. Havia um problema
com o som que frequentemente diminuía. Segundo Mons. Bruno, não
existia peça nacional para substituir. Quando o som diminuía,
alguém ia até a TV e dava uma batida na parte lateral direita, e o
som voltava. As pessoas se alternavam, mas era cansativo. Então o
Cônego Luís montou um mecanismo preso à lateral da TV que acionava
um pequeno martelo, com uma ponta de borracha, e esse mecanismo era
acionado por uma cordinha que o pessoal carregava até a poltrona e
quando o som diminuía... puxava a cordinha que fazia o martelete dar
uma pancada na TV. E funcionava. Mas nem sempre, precisava um pouco
de sorte.
Atividades extraclasse: fui incentivador de 2 delas
- Basquete - ouvi de alguns colegas: “Aprendi com você a dar ‘jump’”. No dia que publicar meu “diário” do tempo do seminário em Aparecida verão como eu era fanático pelo basquete.
- Cinema – me lembraram também que dei um mini-curso de cinema; ouvi gente dizendo: “Aprendi o que era ‘plongée’ e ‘contraplongée’ com você”. É, já relatei que minha intimidade com a 7ª arte deve ter sido uma das razões de estar, em 1965, de volta ao Seminário da Imaculada.
Ordenei-me em 1967 ... e afastei-me um pouco
Quando li os relatos do pessoal sobre os jogos de
fins de semana no seminário, as seleções, as disputas com times de
fora, fiquei cabreiro: ué, onde estão essas disputas na minha
memória se eu acompanhava bastante as atividades dos alunos. Por
exemplo, as atuações sempre impecáveis do Chico Fumaça, segundo
muitos testemunhos. Por que não me lembro? Porque, ao ser ordenado
padre, tornei-me um “pároco de fim de semana”. Ia atender
paróquias que tinham um grupo de religiosas coordenando a vida da
paróquia e precisavam de um padre. Pegava o ônibus sábado de manhã
e voltava para o seminário já no final da tarde de domingo.
Primeiro, veio a paróquia de...
... Santa Cruz da Conceição ... pequenas lembranças ...
- Um negro chamado Jamil – a entrada para Sta. Cruz começava perto de um posto de gasolina entre Leme e Pirassunga. Ao entrar, você era atendido de maneira muito acolhedora por um negro todo sorridente cujo nome era Jamil, a simpatia em pessoa. Acho que muita gente abastecia o carro nesse posto por causa do bom atendimento desse frentista.
- “Pode seguir, seu Padre”- algumas vezes tive que dirigir a Kombi da paróquia, desde Pirassuninga até Sta. Cruz. No meio desse caminho havia um posto da Polícia Rodoviária. Antes de tirar a carta eu já sabia dirigir (aprendi com o Nelson Bom) e, para não ser pego pelo guarda, colocava batina. E funcionava. Se fosse parado ele via a batina e logo ia falando “Pode seguir, seu padre”. Um pecadilho, não é!?
- A caipirinha realmente diferente – havia um senhor que me deu a provar uma caipirinha feita “da casca” do limão. Era esverdeada. E muito gostosa, diferente. Se fosse hoje certamente eu iria “serrar” um litro para mim... mas à época era complicado. Esse mesmo senhor era o entoador do Hino “oficial” da cidade, uma valsa, que começava assim: “Eu vi, como uma visão,...”. (ver abaixo). E foi na casa desse senhor que...
- Um Juiz de Direito “traidor” - Houve uma comemoração, não sei do que. Talvez por causa da nomeação do primeiro Juiz de Direito da cidade. Fui convidado e lá compareci. Aí eu inocentemente, em conversa com o novo Juiz, falei que às vezes eu dispensava o motorista “oficial” da paróquia e dirigia a Kombi, SEM CARTA, para ir celebrar missas nos sítios. Ah, por que!!! No dia seguinte ele colocou os poucos soldados a vigiar as saídas da cidade para os sítios. Mas não me pegou porque o motorista “oficial” da paróquia percebeu o movimento e foi conduzindo a Kombi.
- A lição do seu Oscar – o padre era sempre convidado a almoçar em casas de família. O padre tinha até um quarto reservado numa das casas de paroquianos. Uma vez fui almoçar na casa do Oscar, motorista de caminhão. Conversa vem, conversa vai, ele disse que a vida de padre não era tão complicada ou sacrificada quanto a vida de uma pessoa casada. Guardei aquela opinião como uma verdade. A vida de padre traz algumas renúncias mas ... não tem responsabilidades de manutenção de uma família, da criação de filhos ...
HINO
DO MUNICÍPIO: CELESTE VISÃO
(Composição
do Cônego Manoel Simões de Lima)
Eu
vi,
Como
uma visão,
Num
céu anilado e todo estrelado
Uma
virgem Cândida,
Rezei
logo que julguei,
Que
outra mais não era a
Senhora
Bela
Virgem
da Conceição
Assim
disse um viajante
Que
por ali passou
E
logo exclamou com uma voz vibrante
Que
profecia, bela poesia,
Uma
vila aqui será
Ao
lado da formosa Senhora
Erguia-se
uma cruz, banhada de luz
Assim
continuava o incréu
Ao
ver o lindo quadro no céu
E
concluiu logo que de viagem partiu
Que
ali um dia, a cidade um nome teria
A
qual então, se chamou como recordação
Eis
que lindo nome
Santa
Cruz da Conceição.
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A partir de 67, os fatos são de difícil localização temporal. Quando souber, a localização estará indicada no texto. Antes, mostro um resumo do calendário que o Grego me enviou, ano após ano, e depois voltarei aos meus flashes de memória. |
Calendário “Gregoriano”:
- ano de 1968: seminaristas
começam a fazer apostolado; não havia mais quorum para formar times
de futebol de campo; professores novos – Baus, Rui, Nelson; Pe.
Senna deixou o Grego + Claret + Guerreiro + Adebrail de 2ª época;
Quércia torna-se prefeito e desativa os bondes de circulação em
Campinas e retira os trilhos ...
- ano de 1969: os
“Cursilhos de Cristandade” (“De Collores”) tomam posse de boa
parte dos recreios e os seminaristas ficam confinados, no recreio, à
sala grande perto do hall de baixo, onde era um estudo; assistia-se
ao James West, Tunel do Tempo; nos finais de semana os padres sumiam
e os seminaristas iam assistir aos jogos organizados pelo Sebastião
Piacente e ver as meninas bonitas do bairro. (pra quem quiser ouvir a
musica do Cursilho:
http://www.youtube.com/watch?v=DFKhy1QOYg4&feature=player_detailpage)
- ano 1970: assistiram a
todos os jogos da copa; muita roupa do Cáritas amontoada na antiga
Sala de Visitas; seminaristas recém-chegados (“vocação tardia”)
com direito a morar na ala dos padres e freqüentar o refeitório dos
padres.
- ano de 1971 / 1972:
“várias vezes fomos ao cinema com o Daólio, no fusca verde”; os
seminaristas trabalharam no Mobral, fazendo pesquisas; o Grego
trabalhou em 72 na Cúria, à tarde; Reitor do pessoal do ginásio:
Daólio.
- ano
de 1973: a PUCC tomou posse do SIC;
Grego, Talpo, Guerreiro, Missio, Massamitsu e Cantelli (Harley?)
passaram a morar na ala dos padres com o Daólio; 1° Ano da
Faculdade; o Canoas foi morar na ala da Clausura das Freiras com o
pessoal que ainda estudava no Colégio Pio XII; “o Talpo e eu fomos
trabalhar na GE e em julho demos no pé... depois de pedir a sua
bênção... e você disse: ‘Vão com Deus, que aqui a casa já
caiu’...”
(Voltando aos meus Flashes)
Simon & Garfunkel
Em 1969m segundo o Grego, a recreação do pessoal
era a antiga sala de estudos de baixo. E acho que havia um aparelho
de som. Alguém sugeriu que se comprassem alguns LPs mais atuais, a
gosto da moçada. Fui à cidade e levei um seminarista (acho que foi
o Omar) para que escolhesse alguns LPs. Acho que esse disco acima foi
um deles. Na ocasião, eu não achava bonito. Hoje, diante de tanta
tralha musical, acho muito bom. Tenho o CD e já ouvi muitas vezes.
Paraninfo de turma, Itanhaém e flashes
Fui paraninfo da formatura de 4ª série. De que
turma, de que ano? E agora? Não tem importância. Levei a turma para
Itanhaem. Também acompanharam o Prof. José Baus e o Zocchio. Fomos
de trem (acho), pela Santos/Jundiaí e depois pela Sorocabana. Alguns
flashes: (1) poucos pedaços de ovos nadando num mar de
óleo, na tentativa de fazer uma omelete, para o lanche da noite do
primeiro dia; (2) baratas voando pelo quarto onde o Baus e eu
dormimos; (3) a foto que tirei do Baus, sentado, pensativo, olhando
para o mar imenso (está no site ex-Sic);
(4) o sermão que fiz, durante a missa de domingo, que achei iria ser
comentado (e não foi) mostrando a realidade vista de longe e de
perto, a partir de um passeio onde galgamos o pequeno morro que fica
atrás da “Cama de Anchieta”: em baixo, você passa por pequenas
poças cheirando a camarão apodrecido, e os mesmos laguinhos, vistos
lá de cima, são lindos.
Gruta do Diabo e o Pitolli
Levei um grupo a uma visita a tal gruta. Que turma,
de que ano? Há uma foto tirada na entrada da gruta e onde dá para
saber que é o Alquermes. Fomos com a Kombi do seminário. Fui
dirigindo. Na volta, cansado, pedi ao Pitolli para dirigir em São
Paulo, que ele conhecia os caminhos mais que eu. Antes de chegar a
São Paulo, formou se uma fila de carros. Aí ele resolveu
ultrapassar os carros pela esquerda. Surpresa: sua ultrapassagem foi
bem em frente ao posto da Polícia Rodoviária. Conclusão: tocou-me
explicar ao guarda a situação, a excursão, meu cansaço... o
guarda foi bonzinho e apenas mandou seguir após passar uns pitos.
Retomei a direção.
Copa de 70, Gastão, Brasil x Inglaterra
O Gastão era pároco do Cura D’Ars e morava num
apartamento ao lado daquela sala grande do 2º andar, acima da
portaria. Aí ele me convida para assistir com ele o jogo Brasil x
Inglaterra (1 x 0), bebericando um gim inglês (com tônica) trazido
pelo irmão dele que trabalhava na aviação. E eu preparei uma
surpresa: entrei carregando um magnífico lombo de porco recheado que
havia trazido de Amparo, feito por minha mãe. A glória!!!
Copa de 70, D. Paulo de Tarso, D. Roberto, Brasil x Itália
E agora, o que fazer? O venerável D. Paulo de Tarso
Campos, despreocupado das desimportâncias deste mundo, marcou a
sagração do Bispo D. Roberto Pinarello de Almeida exatamente
no dia e hora da partida final da Copa do Mundo de 1970. Vai
ver que ele sabia do jogo mas não acreditava na seleção
brasileira e achava que o final seria sem nossa seleção canarinho.
Como nós, padres recém-formados, ainda não tínhamos desenvolvido
ainda o dom da “bi-locação”, estar em dois eventos ao mesmo
tempo, tínhamos que escolher: ou a sagração, ou o jogo. E outro
complicativo: a cerimônia seria em Amparo, terra natal do futuro
Bispo. Então nós, os jovens padres, fomos todos na Kombi do SIC e
paramos antes na casa da minha família pra tomar um café, e, como
lá estávamos e havia uma TV ligada, resolvemos chegar um pouco mais
tarde à cerimônia. Certo? Errado. Fomos para Amparo de caso
pensado: vamos assistir o jogo na casa da minha família e depois
vamos pegar o finzinho da cerimônia. E foi assim.
O que é esse negócio de “Cérebro Eletrônico”?
Em 1972 (?) resolvi descobrir o que era esse
“negócio”. Aproveitei um anúncio de um curso gratuito oferecido
pelo SENAC e fiz a minha inscrição, e convenci o Grego e o Talpo a
fazerem também. Na verdade o curso era sobre uma linguagem de
programação famosa à época, chamada COBOL – Common
Business-Oriented Language. Um curso introdutório. Não foi assim
“uma brastemp” mas serviu para dar uma idéia de como funcionava
esse tal de “cérebro eletrônico” e como era programado. Eu até
dei uma treinadinha no computador IBM/3 da PUCC, que havia se
instalado no SIC. O Grego parece ter pego gosto pela coisa e andou
trabalhando com programação um bom tempo. Hoje, sou um usuário
curioso.
O Grego perguntou onde fiz a Teologia ...
... porque, deixando o Seminário do Ipiranga em 63,
e após os estágio em Porto Ferreira, onde terminei o Curso de
Teologia? Foi no Instituto Estigmatino, em Campinas. Fiquei em dúvida
inicialmente, mas achei um precioso documento que aqui estampo como
prova definitiva:
Professor desencantado
Nessa época, dei aulas no Pio XII, na PUCC e até em
Mogi-Mirim. Eu achava que levava jeito para professor. O fato de
ter-me tornado professor no SIC parecia ter me consagrado. Porém,
com vistas a poder lecionar em outras plagas conclui a Faculdade de
Pedagogia num curso de férias aberto pelos Jesuítas no km 25 da
Anhanguera. Praticamente para professores que precisavam legalizar
sua situação profissional. Pois bem, minhas atuações nesses
locais citados me frustraram. No Pio XII simplesmente não conseguia
segurar a indisciplina dos alunos (pudera, quem queria saber de
Problemas Brasileiros!?). Na PUCC lecionei Doutrina Social da Igreja
e tive relativo sucesso. E quase fiz carreira universitária ao atuar
como Professor Assistente na Faculdade de Educação da Unicamp, a
convite do Newton Aquiles Von Zubem. MAS ... era 1976, eu não podia
mais dar aulas na PUCC porque tinha pedido a dispensa do sacerdócio
... NÃO HAVIA VERBA para o meu cargo e eu não podia trabalhar lá
sem ganhar nada... acabou-se minha carreira de professor. Posso
relatar 2 pequenos flashes:
- No Pio XII, intervalo da aula, eu me aproximo de um grupo de alunos e me perguntam: “Professor, qual o seu carro?”. Eu: “Um fusca”. “Ora, professor, fusca não é carro, é condução...!” (fico imaginando como os nossos seminaristas, a maioria vinda de famílias pobres, se sentiam ao freqüentar um colégio de “filhinhos de papai” de classe média alta!)
- Na PUCC, já alojada no SIC, Curso de Arquitetura, sou chamado pelo Diretor e avisado: “Olha, professor, eu recebi um aviso de alunos que pertencem ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas) que pretendem denunciar o senhor se não mudar o enfoque de suas aulas. Esse tipo de coisa não tem nosso apoio mas o senhor faça do jeito que achar melhor”. Conversei com alguns alunos mais próximos e disseram que era verdade, havia alguns alunos ligados ao CCC. (Claro que [não] enfrentei esse pessoal... o que você acha, dê o seu voto...)
Por falar em Pio XII, o Pe. Couto ...
... tinha muito “tato” para abordar os assuntos.
Talvez ele resolvesse a briga entre judeus e palestinos se tivesse
sido um diplomata. Quando assumi a paróquia de Elias Fausto me senti
como um condenado pois meu “tato” sempre foi ridículo e a
comparação me era muito desfavorável. Dois exemplos de sua
perícia:
- O Claudinê Pessoto levou o Pe. Couto a visitar uma fábrica que produzia um material de construção de que ele precisava para colocar na reforma da igreja de Elias Fausto. Pois ele, com seu “tato”, conseguiu convencer o dono a doar tudo o que ele precisava e, na despedida, o dono agradeceu ao Pe. Couto pela doação que fez...
- Ele organizou um passeio para Uruguai e Buenos Aires. Convidou o Pessoto e a mim, duas irmãs do Mons. Bruno, uns jovens de uma família muito amiga dele. Lotamos a perua do SIC e o fusca dele. E lá fomos nós. Ao chegar nos hotéis ele entrava imediatamente, organizava os quartos e não pegava numa mala sequer. As gorjetas ficavam por conta dele. O objetivo principal era fazer compras em Buenos Aires, de perfumes e blusas de “cashmire”, famosas à época. Só ele comprou 33 blusas para presentear amigos. Sem falar nos sabonetes e vidros de perfume. E teríamos que passar por 2 alfândegas. Ao cruzarmos a fronteira entre Uruguai e Brasil, lá pela meia-noite, havia um ônibus parado em frente à Alfândega com todas as malas no chão, para serem revistadas. Paramos os carros e imediatamente o Pe. Couto saiu em direção ao escritório da Alfândega. E nós só esperando. Passada uma meia hora lá vem ele ... “vamos embora”. Os guardas nem saíram para olhar os carros, todas as muambas passaram incólumes e sem revista.
-
Aqui a foto da ‘tropa’ toda (sem o Pe. Couto) num restaurante do bairro conhecido como “La Boca”, em Buenos Aires. Pessoto e Eu (de óculos) estamos apontando para a Tia Esmeralda, uma das irmãs do Mons. Bruno.
O Gastão e 2 casamentos
Aí, por volta de 70 e poucos, parei de dar aulas e
de fazer sermões nas missas porque sentia tonturas ao falar em voz
alta. Depois de muitas consultas descobriram que a tontura provinha
do encaixe da mandíbula inferior, abaixo da orelha, o que afeta o
centro de equilíbrio, dentro do ouvido, e que a solução seria
operar do queixo para trazer para trás. Após uma operação de 4
horas, fiquei 40 dias com a boca presa, só em sopinhas e vitaminas.
Recuperando da operação, um dia o Gastão, pároco do Cura D’Ars,
achou que eu estava muito à vontade, sem nada pra fazer, me chamou
e me convidou para fazer uma forcinha e dar uma assistência ao
Jardim São Vicente, bairro que fica entre o SIC e Valinhos. Aí me
engajei bastante na comunidade. Pouco tempo depois o Gastão deixa
o sacerdócio e se casa com a Tuca, uma menina do Jardim São
Vicente. E eu fiz o casamento dele na Capela do bairro. E,
com o passar do tempo, eu vou me engajando cada vez mais nessa
comunidade até que... deixei o sacerdócio e casei com uma menina
do Jardim São Vicente, minha esposa Marlene. Essa foi a época
em que me senti mais sacerdote. Cheguei até a comprar uma pequena
casa nesse bairro com o propósito de “morar junto à
comunidade”... mas, “as voltas que essa vida dá” ... fui por
outros caminhos.
A Dispensa dos votos
Tradução dos primeiros parágrafos:
Excelentíssimo Senhor (o Bispo Diocesano)
O Sr. ALOYSIUS CAROLUS DAÓLIO, sacerdote da
Arquidiocese de Campinas, pediu a redução ao estado leigo com
dispensa de todos os pesos (= votos) provenientes das Ordens
Sagradas (e da Profissão religiosa), sem exceção do peso (=
voto) de conservar a lei do celibato sagrado.
O Santíssimo D. N. Paulo, por Divina Providência
Papa VI, no dia 5 de Março de 1977, tendo relatado o caso à Sagrada
Congregação da Doutrina da Fé, dignou-se acolher (o pedido)
por mera magnanimidade de acordo com as seguintes normas: (seguem 6
normas, entre as quais a proibição de realizar o casamento no local
onde tinha exercido o sacerdócio, no que foi desobedecido).
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